Cuidado centrado na pessoa: uma nova perspectiva em saúde
DOI:
https://doi.org/10.61661/congresso.cbmev.7.2024.136Palavras-chave:
Humanidades, MEV, Centrado na pessoa, Psicologia, medicina do estilo de vidaResumo
A pergunta norteadora deste resumo é: do que se trata a prática centrada na pessoa, afinal? Esta terminologia está se tornando cada vez mais presente em discussões acerca da práxis do profissional da saúde, entretanto, sua definição e origem são difusas. Portanto, o presente trabalho busca investigar epistemologicamente e ontologicamente a abordagem “centrada na pessoa” e quais suas implicações para o futuro da saúde no país apoiado pela Medicina do Estilo de Vida (MEV). A metodologia selecionada foi a pesquisa bibliográfica, na qual foram selecionados artigos e livros de diferentes campos do saber que partilham em seu cerne a concepção humanista vinculada ao cuidado centrado na pessoa na área da saúde. Compreender o que significa “centrar-se na pessoa” é primordial para a atuação em MEV, visto que os valores da MEV são inteiramente alinhados a este novo paradigma e conhecer ao conceito é atentar-se ao pilar da conexão, pilar central para compreensão da relação terapêutica entre profissional da saúde e paciente. A visão de mundo e pessoa das abordagens centradas na pessoa é um retorno à Hipócrates, à medicina, à filosofia e à psicologia como saberes indissociáveis. Ao passo que na psicologia existe uma história documentada para o princípio da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), abordagem psicoterápica fundada por Carl Rogers, não é uma tarefa fácil encontrar literatura que defina o princípio da Medicina Centrada na Pessoa (MCP) e outras práticas em saúde centradas na pessoa, tais como o Coaching centrado na pessoa, o Método clínico centrado na pessoa, entre outras. Todavia, esta dificuldade de aprofundamento epistemológico remonta a uma desconexão perante as filosofias de base desta corrente de pensamento que, em linhas gerais, pode denunciar um diálogo ruidoso entre a medicina, a fisioterapia, a enfermagem, etc. e as humanidades. Este descompasso entre áreas do conhecimento trata-se de uma perda significativa para o cuidado em saúde. É necessário que se retome a importância do filosofar enquanto uma tradição milenar que fala de um exercício em busca da verdade, e que historicamente, foi a precursora da ciência positivista que ditou o modelo biomédico vigente nos últimos séculos. A ACP surge a partir de fortes influências do existencialismo (século XIX) e humanismo, movimento filosófico e literário dos séculos XIV e XV - logo, quando se fala sobre humanização do cuidado na perspectiva humanista, se fala sobre a valorização da pessoa. Para Rogers (1951), a complexa relação entre terapeuta e cliente (como o paciente é denominado) é o principal fator de cura em psicoterapia: o paciente passa a ser cliente, e passa de uma posição passiva, a principal agente de si mesmo. Esta perspectiva é compartilhada pela MCP, a qual evolui semanticamente de “centrada no paciente” para “centrada na pessoa” (Balint, 1984). Para o International College of Person-Centered Medicine, a MCP afasta-se do enfoque na doença para se focar-se na pessoa, conceito que é tão caro à MEV. Aqui, o pilar da conexão assume sua dimensão holística, compreendendo que os relacionamentos devem ser valorizados em seus diferentes contextos, e o vínculo entre o profissional da saúde e pessoa é fundamental para se pensar em uma prática humanizada. Cabe aprofundar-se nas características centrais da prática centrada na pessoa, a qual abre mão da verticalidade na relação e sugere maior ênfase na escuta ativa, maior empatia, compreensão e autenticidade na relação terapêutica. Afasta-se da doença para se encontrar a pessoa que é acometida pela doença; o que está de acordo com a visão holística do ser humano. Em suma, o cuidado centrado na pessoa reconhece a pessoa como um sujeito único, dotado de potencialidades e protagonista em sua própria história; na MEV, esta perspectiva também dialoga com a Psicologia positiva de Martin Seligman. Finalmente, este “novo” paradigma não é necessariamente inédito, trata-se de um resgate de valores que foram centrais para o surgimento da medicina, mas que foram esquecidos diante da evolução do método científico cartesiano. A psicologia vem provando ser possível explorar a relação terapêutica como uma relação horizontal, amorosa, e sobretudo humana. O cuidado centrado na pessoa é o cuidado centrado no humano; é a conexão com o outro que possibilita a mudança de comportamento, e a conexão em si é fator de proteção e cura: este é o antigo novo paradigma em saúde que a Medicina do Estilo de Vida se propõe a resgatar.
Referências
BALINT, M. O médico, seu paciente e a doença. In: BALINT, M. O médico, seu paciente e a doença. p. 331, 1984.
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ROGERS, C. Client-centered therapy: its current practice implications and theory. Cambridge, MA: Riverside Press, 1951.
ROGERS, C. R. Um jeito de ser. São Paulo: EPU, 1983. p. 3-16.
STEWART, M. et al. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. Porto Alegre: Artmed Editora, 2017.
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